Talvez a Divisão 3 tenha sido a categoria em que o publico mais se identificou com os carros, todos eram carros de rua, carros que as pessoas iam ao autódromo e usavam no dia a dia. A grande diferença eram as cores, as enormes rodas e pneus e seus motores que tinham três ou quatro vezes a potencia de um similar que transitava pelas ruas.
Opala e Maverick foram carros que se destacaram na categoria vencendo campeonatos em sua Classe C. Mas um carro se destacou sobre todos desde o começo o VW, sim o Fusca carro fabricado então a uns dez anos no Brasil e considerado “pau para toda obra”. Esse pequeno sedam de duas portas, motor traseiro refrigerado a ar, obra do grande Ferdinand Porsche, foi um sucesso desde seu lançamento. Nas ruas das cidades, nas estradas asfaltadas e principalmente nas de terra onde o valente Fusquinha enfrentava caminhos onde até então apenas os Jipes ousavam percorrer. Táxis, frotas, pessoas que gostavam de seu fácil manuseio, viajantes enfim todos de certa forma sentiam um carinho por ele e sabiam de todo seu potencial.
Agora venhamos, apesar de sabermos que era o irmão mais velho do fabuloso Porsche ninguém imaginaria que ele se desse tão bem nas pistas de corridas de todo esse Brasil.
O primeiro foi um VW-Porsche criação do grande Jorge Lettry e que nas mãos de Christian Heins e Eugênio Martins quase vencem as primeiras Mil Milhas Brasileiras em 1956, lideraram um bom tempo, andando contra Carreteras com quatro ou cinco vezes sua potencia e no final por um simples problema de cabo de acelerador chegaram em segundo lugar.
E o que dizer então da vitória dos irmãos Wilson e Emerson Fittipaldi nos 500 Km de Porto Alegre em 1967, quando enfim deixaram as grandes Carreteras a ver navios.
Já em 1970 quando entrou em vigor o Anexo J da FIA estabelecendo as categorias para as competições automobilísticas a Divisão 3 logo se tornou a mais popular e tão popular quanto a categoria se tornou aquele “carrinho” que corria na classe “C”, o Fusquinha.
Logo alguns começaram a fazer nome nas pistas brasileiras, no Rio Grande do Sul com a inauguração do Autódromo de Tarumã logo a categoria se desenvolveu, em São Paulo a partir de 70 várias equipes usaram o VW para competir em provas de longa e curta duração.
Para isso usavam uma preparação que tinha sido desenvolvida pela Comercial MM e pelos grandes nomes da preparação Jorge Lettry e Miguel Crispim Ladeira. Eram comandos de válvulas, molas, pistões, caixas de cambio com relações de marchas especificas, suspensões e diversos outros itens, todo esse equipamento feito para um outro carro que usava o mesmo motor do Fusca, o incrível Puma que corria na Divisão 4.
Interlagos 1982, Duran, Rui, Bée, Orlando escondido atrás do Conde.
Lembro como se fosse hoje meu primeiro contato com a categoria e o Fusca, novato ia correr o Torneio União e Disciplina pela equipe de P. V. DeLamare em um carro que a equipe usava para corridas longas e curtas, o VW #84.
Nunca havia guiado um Fusca e quando vi aquele carro com rodas Scorro 6 pol. na dianteira com pneus Pirelli Cinturatto 165/13 e 7 pol. na traseira com os pneus 185/13 logo me apaixonei. Todo aliviado de seu peso, sem para choques, em seu interior apenas um banco concha o Sto. Antonio de três pontos -como se usava na época- extintor de incêndio, no lugar do velocímetro um conta giros, um relógio de pressão de óleo e outro de temperatura, seu volante de alumínio e couro era um Fittipaldi. Sem nenhuma forração era todo pintado do mesmo azul de sua carroceria.
No motor preparado pela equipe a receita que na época fazia sucesso , o comando P3 da MM , dois carburadores Weber 48 duplos, molas de válvulas mais rígidas, um bom balanceamento estático e dinâmico, trabalho nos cabeçotes e muito cuidado na montagem, acredito que esse motor tivesse entre 90 e 100hp.
Jr Lara Campos no Rio de Janeiro
Sua suspensão mantida a original, com catraca na dianteira para fazer com que o carro ficasse mais rente ao chão e abaixada na traseira, os amortecedores eram refeitos para que o carro ficasse mais firme, com uma carga muito maior que a original e barras estabilizadoras na frente e atrás.
O cambio uma Caixa 3 desenvolvida pela MM com parceiros tinha a primeira marcha com uma relação bem longa seguida de segunda, terceira e quarta relações vindo em seqüência bem perto da relação de primeira o que o tornava ideal para uma pista, podendo as terceira e quarta relações serem adequadas entre várias existentes. Diferencial podia ser usado 0 8:31 , 8:33 ou 8:35 , nesse carro e para pista de Interlagos era usado o 8:31 com relação de terceira 0,76 e quarta 0,96 que fazia com que as marchas alcançassem as seguintes velocidades aproximadamente, 80km/h em primeira, 110km/h em segunda, 140 km/h terceira e 180 km/h na quarta.
Sentado e amarrado engatei a primeira e saí, sua relação muito longa fazia com que o carro demorasse a embalar, mas quando o comando de válvulas cruzava vinha um verdadeiro carro de corridas, as marchas se sucediam bem rápido e logo estava no final do Retão com a quarta quase cheia.
Foi paixão logo a primeira volta, a freada forte engatando terceira para fazer a curva Três, uma marcha para cada curva do circuito, um carro muito no chão, firme e estável, com algumas manhas para pilotá-lo, estava feliz.
Na corrida alguns dias mais tarde e depois de muitos treinos, correram alguns carros da Divisão 4 em sua maioria Pumas e Lorenas, ambos com motores VW 1.600cc, e o batalhão de Fuscas Divisão 3 não fez feio.
O vencedor foi o Puma VW Divisão 4 de José Martins Junior preparado pela Comercial MM, seguido de cinco VW Fuscas, o segundo, terceiro e quarto três carros que já vinham competindo na categoria a algum tempo, sendo dois deles preparados pela renomada Kinko e em quinto e sexto Alfredo Guaraná Meneses e eu.
Foram duas baterias de seis voltas cada, largaram aproximadamente 35 carros em cada e nesse dia os Fuscas Divisão 3 mostraram o que seria a categoria no ano seguinte, totalmente dominada por eles na Classe A, e para mim mostrou ao cenário automobilístico brasileiro um dos pilotos mais rápidos que já vi andando Alfredo Guaraná Meneses, com quem tive a honra de trocar posições naquelas baterias, eu chegando em quinto em uma e ele em outra. Piloto que no ano seguinte mostraria ao Brasil toda capacidade que tinha o carrinho em se transformar do melhor meio de transporte em todas regiões brasileiras qualquer que fosse o tipo de estrada ou piso, em um grande carro de corridas, enfrentando e vencendo as vezes carros com quase o triplo de sua potencia.
Esse era “apenas” o Fusca...
Rui Amaral Jr
PS: A todos os amigos que dividiram comigo grids e aventuras, Teleco, Guaraná, Manduca, os queridos Levorin e o Chapa, José Martins, Julio Caio, Alex Silva, Jacob, Mike, o pessoal da Kinko, Jr Lara, Ferraz, Ricardo Bock, Orlando Belmonte Jr, Bée, Conde - Luiz Henrique Pankowski -, Duran, Sueco e todos outros que se o nome não me vem agora à lembrança estão em nossos pensamentos e a alguns que já se foram Expedito, Adolfo, Arno, Artur e o Grande Alicatão João Lindau que estão sempre com carinho em nossos corações.
Um agradecimento especial a três amigos que estão transformando nossos carros em obras de arte; Tito Tilp, Mauricio Moraes e Ararê Novaes.
E ao amigos Fernando, Fabiano e Luiz Guimarães e Caranguejo.
10 comentários:
Amigo Rui,
Muito bom.
Recordar é viver, ainda mais quando são boas lembranças de tempos e feitos notáveis.
Nesta época já estava fora da faixa do asfalto do Templo (aliás o meu tempo foi curtissimo, mas tambem valeu cada minuto, cada curva e cada kilometro), vez ou outra lá comparecia para assistir voces ou fuçar nos bastidores.
Até hoje mantenho uma relação de paixão com os Fuscas e acho que todos da Divisão 3, sentem o mesmo pelos "pinicos".
Obrigado pela lembrança, e creia a recirpoca é bem verdadeira.
Abs,
Fernando
Um abraço Hiper Fernando!
Rui
O Rui fica querendo que eu lembre de certas coisas que não eram da minha época, eu sou muito novo hahahahah abraços.
Obrigado pela lembrança, Rui.
Nessa época ficavamos (Fabiano e eu) nas arquibancadas e, às vezes, fuçando nos boxes, sempre com a filmadora e a Pentax alertas.
O recente contato com vocês nos conduziu novamente àqueles bons tempos.
Abração,
Luiz Guimarães
Grande Rui, é emocionante o teu depoimento principalmente pra mim que vivi essa época somente com as revistas, gostaria de ter um desses na garagem, eu aprendi à dirigir num fusca 69 que até hoje é nosso, mas tenho muita vontade de ter um DIV3 pra acelerar!!!
Pra mim nenhuma categoria, até hoje, superou a Divisão 3 e seus carros "de rua" totalmente modificados, coloridos e barulhentos, nada de bolha, câmbio sequencial, freio ABS e o escambau.
Belo texto Rui, feito com paixão.
A você Orlando, parabéns pelo dia de hoje, 3 de Dezembro.
Meio século??? Haha...
Muita saúde e que em 2011 o "pinico atômico" nº 13 esteja totalmente restaurado e pronto pra encarar as pistas novamente.
Um grande abraço!
Ah!
Obrigado pela citação desse eterno apaixonado pela Divisão 3.
Um abraço e mais uma vez obrigado Rui e Orlando.
Fabiani, Guima, Ararê não tinha visto os comentários, obrigado a vcs, logo, logo estaremos todos juntos.
Um abração
Rui
Por favor, alguem tem alguma foto do meu Karman-Ghia? infelizmente, devido a uma enchente, perdi todas as fotos. Sou o João Carlos S. Bevilacqua, 6º na lista, de baixo para cima.
Tambem tive a honra de disputar posições como Guaraná.
Abração aos amigos.
João Carlos, obrigado por acompanhar nosso blog !!
com relação as fotos, talves Rui ou o Tito deve ter alguma coisa, estamos resgatando tudo isso e estamos para receber muito material ...
abç
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